terça-feira, 30 de setembro de 2008

Mídia não faz o trabalho que deveria e é pega de surpresa

Por Luiz Carlos Azenha

A mídia corporativa dos Estados Unidos, em vez de investigar o que andava acontecendo no Congresso, nos últimos dias optou por ficar na torcida.

Torceu pela aprovação do pacote de ajuda ao mercado financeiro.

Do mesmo jeito que a mídia corporativa brasileira torceu contra o governo Lula. Torceu, distorceu, mentiu e omitiu. E se ferrou com a popularidade do presidente da República atingindo 80%.

Como é possível, depois do caos aéreo, do apagão elétrico, do escândalo dos cartões corporativos, do escândalo dos grampos, da "epidemia" de febre amarela o governo Lula ter 80% de aprovação?

Só existe uma explicação: o divórcio existente entre o Brasil real e o Brasil da mídia, que representa apenas a fatia "afrikaner" da população.

Estamos assistindo a um momento histórico, tanto aqui quanto nos Estados Unidos.

É a derrocada do Jornalismo corporativo, que se divorciou completamente dos interesses da população para prestar serviços acima de tudo a seus próprios interesses políticos e econômicos e aos "dos seus".

Assistimos, no Brasil, recentemente, ao mais espetacular lobismo de uma parcela majoritária da mídia corporativa em defesa dos interesses particulares de um banqueiro. "Veja", "Folha de S. Paulo", "Estadão", "Época" e TV Globo se colocaram a serviço da propagação de uma fábula, segundo a qual houve espionagem generalizada de autoridades brasileiras por parte da Agência Brasileira de Informações (ABIN).

Isso foi feito sem uma única prova factual. Onde é que estão as gravações? Onde é que estão os depoimentos comprometedores?

Por enquanto, NADA. Nunca imaginei que depois de 30 anos de carreira eu viveria para escrever isso: a mídia corporativa brasileira colocou os interesses de um banqueiro não só acima dos interesses do público, mas do próprio Estado.

[...]

Você, caro leitor, está vivendo um momento histórico: QUANDO A MÍDIA CORPORATIVA SE DESCOLOU COMPLETA E ABSOLUTAMENTE DO INTERESSE PÚBLICO. Fotografem, para deixar de recordação para os netinhos.

texto na íntegra: clique aqui

domingo, 28 de setembro de 2008

Eu, um Stálin

(Ou, quando em meio a um prosaico almoço, me descobri um ditador sanguinário em construção.)

Mãe, num misto de compreensão e preocupação:
- De vez em quando tu tem umas posições de esquerda bem radicais!

Irmã, num tom de galhofa:
- Seu esquerdista!!!!

O engraçado é que o "esquerdista" saiu com um sentido de "terrorista".

O mundo que me aguarde.
[mentalmente, insira aqui uma risada maquiavélica]

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Vôo na crise da República Socialista dos EUA

Um vôo supersônico pela crise financeira dos Estados Unidos, que não explodiu ontem, mas que também está longe de ser definitivamente superada. Como estou a anos-luz de ser um especialista em economia (é mais fácil uma arara chegar a presidência dos EUA), decidi apenas expor os pontos que grudaram no meu cérebro.

Aliás, a superação nesse caso exige um tremendo estrondo em ideologias, discursos e estruturas de poder político e econômico.

- Os neoliberais sempre defenderam o Estado mínimo, ou seja, nada de interferência de qualquer governo na economia de um país. Ela deve ser conduzida de forma privada, assegurada pela concorrência das empresas, que por sua vez garantiriam a eficiência dos produtos, técnicas e serviços. Os EUA foram os principais porta-vozes dessa estrutura, desde sempre. A essa eficácia dá-se a alcunha de "mão invisível do mercado".

- Para os defensores mais ferrenhos do neoliberalismo/capitalismo, esse modo de produção é o mais eficaz porque ele estaria imune aos humores de um determinado governo/governante.

- Na crise, vários bancos norte-americanos, em busca de mais lucro, resolveram emprestar dinheiro, com juros a uma taxa mais alta, para pessoas que não tinham renda fixa, não tinham emprego, e que já possuíam até algumas dívidas anteriores. Potenciais mau-pagadores. Muitas dessas pessoas resolveram tomar esse dinheiro para comprar suas casas próprias.

- A inadimplência surgiu e o castelo de cartas começou a desabar, deixando os bancos no buraco.

- Aí, o governo dos EUA, que graças a invasão no Iraque (guerra é entre duas partes de forças semelhantes) já possui uma dívida pública de cerca de 15 trilhões de dólares (um quinze seguido de doze zeros), resolve "salvar" os bancos, e se dispõe a gastar 700 bilhões de dólares nessa brincadeira.

- O que houve com a mão invisível? O que diabos o governo norte-americano foi fazer no mercado? Os Estados Unidos estão à beira da revolução socialista? O Bush virou o Che?

- O governo norte-americano foi simplesmente socorrer especuladores e executivos financeiros que, guiados pela ganância doentia, resolveram cair de cabeça numa aventura que tinha a palavra "merda" escrita na testa. Resolveu-se socializar um prejuízo de uma gente que sempre privatizou os seus lucros a vida inteira. É importante lembrar que muitos desses executivos estão carnalmente ligados à Casa Branca. Seja como financiadores de campanha, ou como sócios empresariais.

- E para o norte-americano médio, que cobra do governo um programa de saúde, de habitação, de educação? Sobra a desculpa de que não há verbas e uma dolorosa indiferença. Até que um outro desastre como o Katrina apareça para que o governo desfile sua hipocrisia.

- Cabuloso é ver os jornais, as revistas e as emissoras de TV tratarem dessa crise com milhares de colunistas, especialistas e outros "istas", sem apontar mesmo que levemente esses tópicos que eu elenquei de forma tosca e rasteira. Porém, não deixa de ser curioso ver o contorcionismo verbal desse time que defende cegamente essa estrutura. Uma turma que sempre afirmou que o capitalismo é admirável pela sua capacidade de se "reinventar". Ora, reinventar-se sugando 700 bilhões de dólares do Tesouro Público? Assim até eu viro um Prêmio Nobel em economia.

O que deu pra observar de uma perspectiva mais ampla é que as ideologias que muitos países, instituições e indivíduos defendem com brilho nos olhos (e com guerras sangrentas) são tão frágeis quanto o meu afilhado de um ano de idade. O que está sempre em jogo são privilégios, e todas as regras que guiam as estruturas sob as quais vivemos podem ser radicalmente alteradas em nome desses privilégios, restritos a pouquíssimas pessoas. Não interessa que nome se dá a essa estrutura. Capitalismo, Socialismo, Cristianismo ou Satanismo. No fim das contas, um nome é apenas um nome.

Enquanto isso, a Veja vem me dizer que o Tio Sam me salvou.

Salvou quem, cara pálida? Como se eu tivesse investido algum centavo nessa orgia financeira.

Façam-me o favor e divulguem o arquivo do "grampo" do Gilmar.


Ilustração Bush: Página 12

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

E o mundo pira

O mundo "tá que tá".

Os Estados Unidos estão se comunizando, com a velha tática de socializar o prejuízo.

Terroristas delinqüentes de extrema-direita atacam e matam bolivianos de origem indígena, e são tratados como meros "oposicionistas" pela imprensa internacional, incluindo a brasileira.

Pretendo escrever algo sobre essas questões, que têm me chamado bastante a atenção. Pretendo. Se vai sair algo, é outra história.

Ilustração: Latuff

A mesma receita

Por Sebastião Nery

BUENOS AIRES - Órfão numa família ilustre e rica, criado pela negra Hipólita, que considerava mãe, José Antonio de la Santíssima Trinidad Simon Bolívar y Palacios nasceu em Caracas em 24 de julho de 1783. Teve sua educação orientada por Simon Rodriguez, pedagogo revolucionário que lhe infundiu o amor à liberdade e às idéias avançadas.
Aos 17 anos, em 1800, foi estudar na Espanha. Em 1804, assistiu à coroação de Napoleão, na Notre Dame, em Paris e se familiarizou com as doutrinas de Rousseau, Montesquieu e Voltaire.
Em 1805, em Roma, lá em cima do Monte Sacro, jurou "dedicar a vida a romper as cadeias com que nos oprime o poder espanhol".

BOLÍVAR
E cumpriu. Na volta, passou pelos Estados Unidos e, em 1807, há 200 anos, retornou à Venezuela para lutar pela Independência, com a ajuda de um brasileiro, o pernambucano José Inácio de Abreu e Lima.
Pregava "o sonho bolivariano" de "uma América Latina unificada", "uma Comunidade das Nações Americanas". Uma ONU americana, um século e meio antes da ONU.
Libertou a Venezuela, atravessou os Andes a cavalo, em terrível inverno, e libertou o Equador e a Colômbia. Encontrou-se com o argentino San Martin e os dois libertaram o Peru. Depois, Bolívar libertou a Bolívia.

LIBERTÁRIO
Houve uma hora em que era presidente da Colômbia, chefe supremo do Peru e o presidente da Bolívia. Renunciou aos três. Era um libertário:
- "Não usurparei a liberdade. Tenho mais medo da tirania do que da morte. Fugi de um país onde um só individuo exerce todos os poderes. Seria apenas um país de escravos. Chamai-me Libertador da República. Jamais serei seu opressor". Libertou e criou cinco nações.
Morreu em Santa Marta, na Colômbia, em 17 de dezembro de 1830, aos 57 anos. Segundo a Enciclopédia Britânica, "como salvador dos povos e maior expressão de estadista e gênio político da América Latina, o nome de Libertador lhe deu a aura mística que se perpetuou através dos tempos".

BOLÍVIA
Desde o século 13 (1200 e tantos), os índios quíchuas e aimarás do Altiplano (norte) da Bolívia eram do império inca. Em 1530, chegaram os espanhóis e escravizaram os índios para trabalharem de graça nas minas de prata de Potosí. A Bolívia virou duas: a Bolívia-índia, com mais de 75% da população lá em cima no Altiplano, a milhares de metros de altitude, e por isso a capital é em La Paz, e cá embaixo a Bolívia branca, entre os rios e o mar, na branca Santa Cruz de la Sierra, com uma capital de mentira, Sucre.
Proclamada a independência da Bolívia, por Bolívar, em 1825, começaram as invasões. Espanha, Inglaterra, Estados Unidos queriam continuar roubando a prata de Potosi. Um dia, através do Paraguai, na guerra do Chaco, por causa da descoberta do petróleo no pé dos Andes. Outro dia, pelo Chile, na guerra do Pacífico, para tirar o acesso da Bolívia ao mar.

POTOSÍ E GÁS
E os índios brigando e morrendo. E a prata de Potosi indo embora para a Europa. Desde a invasão espanhola, em 1830, mandaram os brancos do sul e seus presidentes brancos. Foram séculos de golpes e tiranias (um general por ano, às vezes por mês e até por semana, todos brancos).
Até que um dia os 75% de índios resolveram eleger um deles, Evo Morales, presidente. Ganhou, convocou uma Constituinte. Os brancos, os lá de baixo e os de fora (sobretudo a imprensa americana, espanhola, brasileira) abriram guerra, já não mais de olho na prata, mas no gás.

MORALES
O índio Morales os desafiou a todos e, no meio de seu mandato, convocou um Referendo para confirmar ou anular seu mandato e os dos 9 chefes dos Departamentos (governadores). Na eleição, tinha ganho com 52% dos votos. O Referendo o confirmou com 67,5%. Uma lavagem.
E, dos 9 "governadores", só 5 foram confirmados. Quatro perderam. Não havia jeito. A solução só podia ser a mesma que os Estados Unidos comandaram no Brasil em 64, no Chile em 73, na Argentina em 76. Não podiam derrubar no voto, tinham que derrubar no golpe.

64, 73, 76
A receita é sempre a mesma. No Brasil, envolveram ou compraram alguns governadores e jornais, e começaram as provocações. "Pegaram" Magalhães Pinto, Ademar de Barros e Lacerda, criaram arapucas, como o IPES (Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais) de Golbery e Hasslocher, a ADP (Ação Demcratica Parlamentar), do baiano João Mendes da Costa Filho, os três diretamente financiados pela embaixada norte-americana, aliciaram alguns generais carreiristas e o golpe estava pronto.
No Chile, puseram os caminhoneiros paralisando as estradas e o general assassino Pinochet bombardeou o La Moneda, levou Allende à resistência pelo suicídio e mataram 10 mil chilenos em dez anos. Na Argentina, os empresários fizeram uma fantástica paralisação, o general Videla assaltou a Casa Rosada e assassinaram e desapareceram 30 mil.

GOLPE BRANCO
Na Bolívia, o "governador" branco de Santa Cruz quer fazer de seu Departamento (Estado) uma província dos Estados Unidos, como Porto Rico. E a imprensa canalha da América Latina apoiando o golpe branco.

http://www.sebastiaonery.com.br/

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Jornalismo indigente

Para alguns jornalistas, não basta ser colonizado. Tem que ser medíocre.A imagem acima foi publicada no jornal O Globo e na capa do site do mesmo jornal.

Quem é o brasileiro que se interessa pela pergunta? Qual é a relevância desse tipo de questão? Além de tudo é um desrespeito às mulheres, como se o destino delas no mundo fosse "ser fashion". (Luiz Carlos Azenha, no Vi o Mundo)

Link direto para o texto do Azenha na imagem e aqui.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Coelhos em alto-mar

Antes que esse blog fique político demais e os sete leitores desistam de visitá-lo, uma distração bem-humorada. O clássico "Tubarão" em 30 segundos - e reencenado por coelhos!



Estou pensando em colocar alguns vídeos em um determinado dia da semana, numa espécie de post fixo, para não ficar somente em textos, e para que o blog não dependa apenas do que eu escreva, até porque em alguns dias fico sem condições de escrever algo.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A direita raivosa

O tempo simplesmente não passa.

11 de setembro. Uma data fatídica... para os chilenos.

No dia 11 de setembro de 1973 o presidente do Chile, Salvador Allende, foi assassinado na sede do governo, durante o golpe de Estado liderado pelo general Augusto Pinochet, com apoio declarado dos EUA, que derrubou o governo da Unidade Popular.

Como é muito provável que os jornais lembrem somente do outro 11 de setembro, o mais famoso, me vi obrigado a lembrar desse arranhão na história da América Latina, que não se resumiu só ao Chile, como todos sabem. O Brasil até hoje tem seus saudosos dos tempos de chumbo. Alguns deles são hoje políticos, que enchem a boca para falar de democracia, como se o passado de puxa-saquismo da ditadura nunca tivesse acontecido. Aliás, só no Brasil que um partido como o PFL decide trocar o nome para Democratas. Não é só cara-de-pau. É muita confiança na ignorância alheia!

Só para ilustrar o nível de alguns políticos à solta por aí:
http://br.youtube.com/watch?v=N8dPt31ML44

No vídeo, Jair Bolsonaro, deputado (quem vota num paspalho desses?), diz que "o grande erro da ditadura foi torturar e não matar". Ele ainda achou pouco dar uma declaração dessas e ainda emendou um "fodam-se" para os manifestantes. A manifestação pedia a revisão da Lei da Anistia, que faria com que os militares acusados de torturar e matar na ditadura fossem julgados.

E já que está se falando em direita raivosa, na Bolívia, os "oposicionistas" do Evo Morales estão causando um caos no país por causa das reformas que o presidente está fazendo. Se esses manifestantes fossem estudantes ou tivessem uma bandeira com o Che Guevara, a imprensa brasileira já estaria esculhambando e rotulando-os como "vândalos". Mas como esse grupo é formado pela elite empresarial do país (brancos não-índios) que não aceitam perder os privilégios que condenam a maioria da população do país, a mídia esconde até onde pode, dando apenas informações burocráticas e sem contexto.

Um dos argumentos utilizados pelos vândalos direitistas da Bolívia:

O governo do Evo Morales foi aprovado recentemente em referendo, por mais de 65% dos eleitores. A porcentagem é maior do que a que ele recebeu quando foi eleito.

A melhor cobertura sobre a crise boliviana está sendo feita pelo Eduardo Guimarães.

Acusado de colaborar com os arruaceiros, o embaixador dos EUA (sempre eles) foi expulso do país.

Aliás, dizem que os Estados Unidos nunca sofreram um golpe de estado porque não há embaixadas norte-americanas por lá.

O tempo simplesmente não passa.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Gratuito?

O guia eleitoral "gratuito" custa à Receita Federal cerca de 245 milhões de reais. Dinheiro público (meu, seu) derramado nas emissoras de TV e rádio. As empresas recebem isenções fiscais para transmitir os programas.

É importante lembrar que as emissoras operam através de concessões públicas, ou seja, o espaço cedido às emissoras é do Estado - e por extensão, da sociedade. Em teoria, a sociedade teria direito a esse espaço quando fosse necessário, como no caso das eleições. Mas isso é a teoria.

Na Carta Maior: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15210

O locutor podia pelo menos deixar de falar a palavra "gratuito".

Ou então podia dar uma gargalhada depois de falar.

domingo, 7 de setembro de 2008

O surrealismo da vida real

Caminhos da fome


Vidas invisíveis

O Jornal do Commercio trouxe essa semana duas matérias especiais que honram o Jornalismo. Ambas com histórias comoventes de seres humanos que, cada um ao seu próprio modo, vivem como se não vivessem. Vivem como invisíveis. Vivem como se mortos fossem. Pessoas desprovidas de absolutamente tudo, desde um saco de arroz até a dignidade.

O especial Caminhos da fome, alicerçado pelas idéias de Josué de Castro, traça o perfil de moradores de várias cidades do Nordeste que convivem diariamente com o assombro da falta de comida. Já o caderno Vidas invisíveis [disponível para assinantes do JC ou do UOL] trata dos que sofrem com a violência diária e cada vez mais banal - violência que muitas vezes é exercida pelo próprio estado, via polícia. Os dois especiais possuem textos e fotos impecáveis.

As matérias retratam essa espécie de Brasil esquecido, ignorado, condenado ao eterno sofrimento, como se as condições sob as quais essas pessoas sobrevivem fossem um destino imutável, e não consequência de um modelo de sociedade que impõe tragédias diárias para uma parcela da população. É um Brasil que desconhece profundamente qualquer tipo de desenvolvimento, seja ele econômico ou humano. É um Brasil com problemas tão antigos quanto graves. Graves de verdade. Perto deles, nossos "problemas" pequeno-burgueses são apenas patéticos.

Nesse Brasil surreal há crianças que perdem a visão antes de completar o primeiro ano de vida, por causa da fome e da desnutrição. Há também jovens que não podem dormir em casa porque apanham diariamente, ou porque possuem dívidas relacionadas às drogas, pelas quais temem pagar com a vida. Para esse Brasil, quando a morte chega, ela é vista como algo tão corriqueiro como um passeio de bicicleta em um domingo ensolarado.

Esse Brasil é surrealista exatamente por ser Brasil. Como pode um país com uma opulência econômica e uma riqueza humana como o nosso comportar episódios dessa natureza? Como pode um país que celebra safras recordes ano após ano ainda condenar milhões à fome? Como pode um país que destina centenas de bilhões de reais a juros internacionais não investir pesado em políticas sociais? A quem interessa a penúria social que sufoca essas pessoas?

É um Brasil que despreza o bom senso e a razão. É um Brasil surreal.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Grampolândia*

Aparentemente a última grande "crise" do nosso Brasil cada vez menos varonil é o tal do grampo em um telefonema entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

Antes de cair no alarmismo cínico, na conversa tola de que há uma "degradação institucional", que é o fato mais grave desde a ditadura (putz, sem comentários), é bom atentar para alguns elementos dessa "crise". É bom refletir numa espécie de "calma aê, deixa eu pensar"!

PERAÍ!

1. O Gilmar Mendes é o mesmo indivíduo que soltou o banqueiro-larápio-criminoso-corruptor-mor Daniel Dantas, por meio de dois históricos habeas corpus em menos de 48 horas. (Parênteses: acabo de ler um artigo na Folha que diz haver mais de 9 mil pessoas que já cumpriram sua sentença e que continuam encarceradas - nem preciso dizer que eles não são banqueiros).

2. O Daniel Dantas, antes de ser preso, disse que temia apenas a Polícia Federal e algumas instâncias do Judiciário, porque no STF ele teria "facilidades". Com facilidades ou não, o Gilmar Mendes, em plena madrugada, liberou o banqueiro-larápio-criminoso-corruptor-mor.

3. Na época em que se iniciou a investigação que resultou na prisão do Daniel Dantas, o diretor-geral da PF era o Paulo Lacerda, que posteriormente foi transferido para a diretoria da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), uma espécie de CIA verde-amarela.

4. Isso posto, fica claro que o Daniel Dantas e o Paulo Lacerda não são exatamente amigos-irmãos tipo Roberto e Erasmo.

5. A Veja, bem... é a Veja.

6. A matéria que deu início a esse trololó é um requentado - o assunto já foi capa da revista há alguns meses, e na primeira vez afirmou-se que os grampos atingiam todos os integrantes do STF. A semelhança com essa segunda matéria é a seguinte: tudo é uma suposição. Um SUPOSTO integrante da Abin, declarou à revista que fez a SUPOSTA gravação (ainda não foi divulgado nenhum arquivo da conversa em questão), sendo essa SUPOSTA gravação uma SUPOSTA ordem da chefia da Abin. Quase que dá pra dizer que a matéria também é uma suposição. Vai ver foi brincadeira dos editores da revista.

Daí vem todo o pandemônio. Um alto integrante do governo federal teria ordenado, ilgalmente, a gravação da conversa de um integrante do poder Judiciário.
No meio da confusão, o Lula afasta a direção da Abin (Paulo Lacerda), até que tudo seja investigado. No final das contas, quem ganha com isso?

Ele mesmo. O banqueiro-larápio-criminoso-corruptor-mor, Daniel Dantas, que tem as investigações sobre o seu caso dificultadas, já que a direção da Abin que co-participou da sua prisão acabou sendo afastada. O delegado da PF que o prendeu, é bom recordar, deixou o caso para se dedicar a um curso de especialização - numa sincronia quase cinematográfica.


Essa "crise", aliás, foi bem frutífera em detalhes curiosos (e preocupantes):
- É triste observar a Veja, propalada maior revista semanal do país, com uma matéria que se baseia em suposições, conseguir repercussão nos maiores jornais impressos e nos telejornais do país, alimentando uma instabilidade institucional no Estado brasileiro. Se eles são a nossa "grande imprensa", estamos mal. Muito mal mesmo.

- O general Jorge Felix, Ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República disse que se algum funcionário da Abin fez a gravação, ele a fez sem a autorização da direção da agência. Ainda assim, a imprensa solta a pérola: "Felix admite que servidor pode ter feito grampo sem autorização". Ora, como disse o Paulo Henrique Amorim, sem autorização, um servidor pode fazer o que quiser, até "comer melado com farinha".

- O Congresso, como sempre, fez a sua parte. Deputados e senadores defendendo a instalação de (mais uma) CPI, como se uma CPI num Congresso de rabos-presos servisse para alguma coisa. Além disso, foi no mínimo engraçado ver alguns parlamentares acusarem o Lula de ser o responsável pela situação. Não que eu morra de amores pelo Lula, até porque ele não se parece nem um pouco com a Juliette Binoche, mas como é possível acusar alguém de algo cuja veracidade não foi comprovada? É algo do tipo: "você é acusado de amassar meia dúzia de tomates, apesar de ninguém ter visto essa meia dúzia de tomates amassados!".

O ponto de vista que usei se baseia não só nas minhas impressões, mas nas próprias entrelinhas do caso e de seus envolvidos. Como dizem, a quem acusa cabe o ônus da prova. Até agora quem acusou não provou nada. Desse modo, creio ter motivos significativos para tais reflexões.

*achei engraçado o termo utilizado pelo Fernando Rodrigues, e acabei pirateando.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Oráculo

Sorte de hoje: Seus princípios valem mais para você do que dinheiro ou sucesso

De vez em quando o Orkut dá uma de divindade.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Comédias eleitorais gratuitas

Por falta de tempo, e um pouco por falta de interesse, não tenho acompanhado os programas eleitorais "gratuitos" das eleições desse ano. Eventualmente consigo ver um pedaço na hora do almoço.

A falta de interesse não é exatamente pela política - quem me conhece sabe disso, às vezes eu encho o saco mandando e-mails sobre o assunto - mas pelo simples fato: nenhuma candidatura à prefeitura me provocou uma saudável empolgação. Dos postulantes, quem não cheira a atraso e a enganação, passa a forte impressão de ser um mero fantoche.

Entre os vereadores, nem se fala. É o conhecido show de horrores. Uma mistura grotesca de hipocrisia, oportunismo e gaiatice, com fartas doses de surrealismo. Nesse caldo indigesto, se a maior parte dos postulantes que se apresentam para a nossa análise (ou para o nosso desgosto) não se mostram merecedores da nossa confiança e do nosso dinheiro, alguns merecem ser reconhecidos como legítimos comediantes.

Juro que no programa de hoje, entre vendedores de saladas e pastores, uma candidata prometeu "combate às muriçocas". Isso mesmo.

Nota: Por incrível que pareça, já decidi em quem votar para vereador.