quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Grampolândia*

Aparentemente a última grande "crise" do nosso Brasil cada vez menos varonil é o tal do grampo em um telefonema entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

Antes de cair no alarmismo cínico, na conversa tola de que há uma "degradação institucional", que é o fato mais grave desde a ditadura (putz, sem comentários), é bom atentar para alguns elementos dessa "crise". É bom refletir numa espécie de "calma aê, deixa eu pensar"!

PERAÍ!

1. O Gilmar Mendes é o mesmo indivíduo que soltou o banqueiro-larápio-criminoso-corruptor-mor Daniel Dantas, por meio de dois históricos habeas corpus em menos de 48 horas. (Parênteses: acabo de ler um artigo na Folha que diz haver mais de 9 mil pessoas que já cumpriram sua sentença e que continuam encarceradas - nem preciso dizer que eles não são banqueiros).

2. O Daniel Dantas, antes de ser preso, disse que temia apenas a Polícia Federal e algumas instâncias do Judiciário, porque no STF ele teria "facilidades". Com facilidades ou não, o Gilmar Mendes, em plena madrugada, liberou o banqueiro-larápio-criminoso-corruptor-mor.

3. Na época em que se iniciou a investigação que resultou na prisão do Daniel Dantas, o diretor-geral da PF era o Paulo Lacerda, que posteriormente foi transferido para a diretoria da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), uma espécie de CIA verde-amarela.

4. Isso posto, fica claro que o Daniel Dantas e o Paulo Lacerda não são exatamente amigos-irmãos tipo Roberto e Erasmo.

5. A Veja, bem... é a Veja.

6. A matéria que deu início a esse trololó é um requentado - o assunto já foi capa da revista há alguns meses, e na primeira vez afirmou-se que os grampos atingiam todos os integrantes do STF. A semelhança com essa segunda matéria é a seguinte: tudo é uma suposição. Um SUPOSTO integrante da Abin, declarou à revista que fez a SUPOSTA gravação (ainda não foi divulgado nenhum arquivo da conversa em questão), sendo essa SUPOSTA gravação uma SUPOSTA ordem da chefia da Abin. Quase que dá pra dizer que a matéria também é uma suposição. Vai ver foi brincadeira dos editores da revista.

Daí vem todo o pandemônio. Um alto integrante do governo federal teria ordenado, ilgalmente, a gravação da conversa de um integrante do poder Judiciário.
No meio da confusão, o Lula afasta a direção da Abin (Paulo Lacerda), até que tudo seja investigado. No final das contas, quem ganha com isso?

Ele mesmo. O banqueiro-larápio-criminoso-corruptor-mor, Daniel Dantas, que tem as investigações sobre o seu caso dificultadas, já que a direção da Abin que co-participou da sua prisão acabou sendo afastada. O delegado da PF que o prendeu, é bom recordar, deixou o caso para se dedicar a um curso de especialização - numa sincronia quase cinematográfica.


Essa "crise", aliás, foi bem frutífera em detalhes curiosos (e preocupantes):
- É triste observar a Veja, propalada maior revista semanal do país, com uma matéria que se baseia em suposições, conseguir repercussão nos maiores jornais impressos e nos telejornais do país, alimentando uma instabilidade institucional no Estado brasileiro. Se eles são a nossa "grande imprensa", estamos mal. Muito mal mesmo.

- O general Jorge Felix, Ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República disse que se algum funcionário da Abin fez a gravação, ele a fez sem a autorização da direção da agência. Ainda assim, a imprensa solta a pérola: "Felix admite que servidor pode ter feito grampo sem autorização". Ora, como disse o Paulo Henrique Amorim, sem autorização, um servidor pode fazer o que quiser, até "comer melado com farinha".

- O Congresso, como sempre, fez a sua parte. Deputados e senadores defendendo a instalação de (mais uma) CPI, como se uma CPI num Congresso de rabos-presos servisse para alguma coisa. Além disso, foi no mínimo engraçado ver alguns parlamentares acusarem o Lula de ser o responsável pela situação. Não que eu morra de amores pelo Lula, até porque ele não se parece nem um pouco com a Juliette Binoche, mas como é possível acusar alguém de algo cuja veracidade não foi comprovada? É algo do tipo: "você é acusado de amassar meia dúzia de tomates, apesar de ninguém ter visto essa meia dúzia de tomates amassados!".

O ponto de vista que usei se baseia não só nas minhas impressões, mas nas próprias entrelinhas do caso e de seus envolvidos. Como dizem, a quem acusa cabe o ônus da prova. Até agora quem acusou não provou nada. Desse modo, creio ter motivos significativos para tais reflexões.

*achei engraçado o termo utilizado pelo Fernando Rodrigues, e acabei pirateando.

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