quinta-feira, 13 de maio de 2010

Abraços de Galeano

Mergulhado no belíssimo "O livro dos abraços" de Eduardo Galeano, o uruguaio responsável pela obra-prima "As veias abertas da América Latina", bastante recomendada para quem deseja entender o preço que os latino-americanos pagaram (pagam?) pela prosperidade do Velho Mundo. Os passeios que se guardam em cada uma das crônicas vale muito a multa de quase uma semana pelo meu atraso na biblioteca.

Com a licença do mestre:

Paradoxos
por Eduardo Galeano

Se a contradição for o pulmão da história, o paradoxo deverá ser, penso eu, o espelho que a história usa para debochar de nós.

Nem o próprio filho de Deus salvou-se do paradoxo. Ele escolheu, para nascer, um deserto subtropical onde jamais nevou, mas a neve se converteu num símbolo universal do Natal desde que a Europa decidiu europeizar Jesus. E para mais inri, o nascimento de Jesus é, hoje em dia, o negócio que mais dinheiro dá aos mercadores que Jesus tinha expulsado do templo.

Napoleão Bonaparte, o mais francês dos franceses, não era francês. Não era russo Josef Stálin, o mais russo dos russos; e o mais alemão dos alemães, Adolf Hitler, tinha nascido da Áustria. Margherita Sarfatti, a mulher mais amada pelo anti-semita Mussolini, era judia. José Carlos Mariátegui, o mais marxista dos marxistas latino-americanos, acreditava fervorosamente em Deus. O Che Guevara tinha sido declarado completamente incapaz para a vida militar pelo exército argentino.

Das mãos de um escultor chamado Aleijadinho, que era o mais feio dos brasileiros, nasceram as mais altas formosuras do Brasil. Os negros norte-americanos, os mais oprimidos, criaram o jazz, que é a mais livre das músicas. No fundo de um cárcere foi concebido o Dom Quixote, o mais andante dos cavaleiros. E cúmulo dos paradoxos, Dom Quixote nunca disse sua frase mais célebre. Nunca disse: Ladram, Sancho, sinal que cavalgamos.

"Acho que você está meio nervosa", diz o histérico. "Te odeio", diz a apaixonada. "Não haverá desvalorização", diz, na véspera da desvalorização, o ministro da Economia. "Os militares respeitam a Constituição", diz, na véspera do golpe de Estado, o ministro da Defesa.

Em sua guerra contra a revolução sandinista, o governo dos Estados Unidos coincidia, paradoxalmente, com o Partido Comunista da Nicarágua. E paradoxais foram, enfim, as barricadas sandinistas durante a ditadura de Somoza: as barricadas, que fechavam as ruas, abriam o caminho.

S.

sábado, 8 de maio de 2010

Ode a ninguém

Felicitações. Você foi selecionado para adentrar uma estrutura de comportamento pela qual será classificado por todos os dias de sua existência. Aqui você é livre. Livre para seguir o que todos fazem. Seja temente a entes invisíveis. Abra mão de sua individualidade. Procrie. Vicie-se em televisão. Pague impostos escorchantes. Desconfie do vizinho. Por fim, conforme-se com tudo isso. Submeta-se a uma prisão psicológica que foi construída por alguém ainda não identificado pela ciência. Submeta-se. Não questione. Apenas faça o que a maioria faz, ainda que a maioria não faça nada. E não se preocupe com juízos até o dia de sua extinção. Nunca pense fora da caixa, pois o preço a pagar é alto. Você será estranho. Disfuncional. Problemático. Nunca considere que está do lado externo da jaula. Tenha pesadelos com as dívidas que se multiplicam. Viva irritado, coma velozmente, enfrente horas de um trânsito irracional, ria pouco, respire ar poluído e seja xingado por desconhecidos em razão de motivos infantis. Trabalhe a vida inteira, até o esqueleto quebrar, e desconsidere a baixa remuneração. Tome vários remédios. Enriqueça os bancos. Seja indiferente aos corruptos e aos esfomeados. Venere os imbecis. Admire ídolos com pés de barro. Seja normal. Seja ordeiro. Seja ninguém. Felicitações.
S.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Libertinagem

E quando a liberdade de imprensa se transforma em liberdade de inventar declarações, manipular conceitos e ser completamente irresponsável? É essa a liberdade que o barões da mídia tanto defendem?
S.

Tecnicismos

Marqueteiros orientam seus candidatos, para aquela que deve ser a eleição presidencial mais suja, fria e CHATA de todos os tempos...

(clique para aumentar)
S.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Vento

Quem me dera eu fosse o vento
Pra ser capaz de fazer teus cordões castanhos dançarem
S.