quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Foda-se tudo!

Esse mundo está doente. Eventos bizarros estão cada vez mais recorrentes, não sei se a circulação frenética de informações tem algo a ver com isso, mas em alguns momentos sobe no ar a sensação de que deitaremos em nossas camas à noite, e no outro dia acordaremos em uma terra devastada., em um mundo de ponta-cabeça.

Bastante curioso observar que uma das declarações mais anárquicas (no sentido estrito) que ouvi nos últimos tempos veio de um investidor da Bolsa de Valores londrina, ao comentar a crise econômica da Europa, o colapso do euro e as ações de resgate por parte dos governos:


Não consigo deixar de me lembrar do filme "History Of The World", do Mel Brooks, e da antológica cena no Senado Romano.


É praticamente um revolucionário da era pós-moderna. Corram para as colinas!
S.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Desastre nacional

Crônica de uma catarinense, mas se incluirmos o nome de qualquer outro município brasileiro o texto mantém o efeito. Publicado no Brasil de Fato.


Sou ônibus-dependente
Elaine Tavares

Tá bom. Eu confesso. Uso drogas. Mas não é porque eu queira. Sou obrigada. E quem me obriga é a municipalidade. Sem dó ou piedade, a prefeitura de Florianópolis, impõe a mim e a mais umas 200 mil pessoas, todos os dias, o transporte coletivo desintegrado. E fique esperto. Destrói a gente mais do que o crack. Haveria de a RBS (TV local) fazer uma campanha contra essa porcaria.

Nessas três últimas semanas, em que não para de chover, a coisa fica ainda pior. O terminal urbano é o saguão do inferno. As pessoas chegam molhadas e emburradas. Porque sabem que haverão de passar ali algumas horas de horror. Eu pego o ônibus para o sul e sei que em menos de duas horas não percorrerei os 25 quilômetros que me separam de casa. Quem vai para o norte terá a mesma sorte. Nas filas quilométricas, que serpenteiam por dentro do terminal, as caras das gentes são de completo desconsolo. Em algumas pessoas se vê um quase descontrole emocional. Não há espaço para o sorriso ou para a delicadeza. O ódio é a nossa herança.

Dentro do ônibus segue o desastre. Vidros fechados, pessoas tossindo, a raiva aumentando. Como os coletivos são poucos as pessoas se amontoam e a maioria vai em pé. O trajeto é curto, mas a espera é longa. Quando chega ao famoso “elevado”, construído com a promessa de “acabar com as filas”, o ônibus para. E ali fica, se arrastando, por quase 30 minutos. Depois, ao entrar na rodovia que vai para o sul, a lentidão é de matar. O povo já está bufando, o estresse elevado à última potência.

Quem está nas paradas do caminho vive outro tipo de desespero. Além da espera por mais de hora, em pé, sequer há abrigo. E quando tem, é tão mal feito que nos dias de chuva molha mais dentro do que fora. Como o “busão” demora a passar, a parada vai enchendo e, sem organização, quando ele assoma, o povo só falta se estapear para entrar primeiro.

“Acho que a prefeitura deveria distribuir pipoca nas paradas”, brinca um usuário desavisado, ainda não-dependente da terrível droga. É o que o capitalismo faz, alivia a tensão. Como nas casas bancárias. A solução encontrada para as filas gigantes foi colocar banco. Ideia genial. O cara espera sentado. Aí reclama menos. Fica a ideia para o prefeito Dário: distribuir pipoca.

Essa é a sina dos trabalhadores. Sair de casa de madrugada, enfrentar as filas, o desconforto, trabalhar feito um escravo e voltar para casa amargando toda essa frustração. Quem sai do serviço às sete da noite só chega lá pelas nove, “morto”. Como ser alegre com os filhos, como fazer um chamego no seu amor, como estar bonita e cheirosa, como? Não há tempo sequer para sonhar. E assim segue a vida na cidade grande. O bonde dos drogados, dos ônibus-dependentes. Até que um dia alguém exploda, feito pipoca. Aí os âncoras dos telejornais vão falar da “terrível e incompreensível baderna”, como a que aconteceu em Londres.

Até parece que as revoltas populares brotam do chão! Não foi à toa que a revolta da Catraca aconteceu aqui, nesta ilha de magia. E não é sem razão que as revoltas espreitam em todos os lugares onde a vida nos é tomada.
S.

domingo, 4 de setembro de 2011

Cracolândia recifense

A reportagem sobre o comércio de drogas no Recife Antigo, exibida na última sexta-feira no Jornal Nacional da Rede Globo, pode ser tomada como uma das amostras mais cristalinas do que representa o jornalismo apressado e carente de contextualização. A matéria, com menos de três minutos, serve bem como fonte de análise para eventuais pesquisadores de comunicação que se debruçam sobre nosso contemporâneo jornalismo fast-food. Embalado para o Homer Simpson que repousa no sofá.

Desde a escolha dos enquadramentos, fica explícita a intenção de carimbar a região do Recife Antigo como uma ilha de toxicômanos, apenas à espera da higienização e da mão pesada da repressão policial. Para onde foram todos os bares existentes no local, com mesas lotadas nas calçadas? Onde está a Rua do Bom Jesus, ponto de uma feira de artesanato aos domingos? Onde está a Praça do Arsenal? Onde está a parcela majoritária dos frequentadores daquela área, composta por pessoas sem relação alguma com qualquer tipo de ilegalidade?

Peço licença para tornar esse texto ainda mais pessoal. Já toquei mais de uma vez em bares próximos da Rua da Moeda, e em momento algum imaginei que enquanto estivesse no meio de uma das músicas, uma horda de traficantes e assaltantes fosse invadir o bar e partir pra cima de todos nós. A própria rua recebe no fim do ano um palco da Prefeitura do Recife, onde se apresentam bandas de diversos estilos. Um cenário que destoa da Cracolândia recifense exibida em rede nacional.

Assim como os que habitualmente vão ao Recife Antigo, a polícia sabe que esse é um problema de vários anos, mas restrito a pontos críticos. Fica a questão: ela faz vista grossa ou é incapaz? A outra ponta: se há pessoas vendendo drogas nas ruas de um bairro turístico da cidade, há pessoas comprando. E não seria leviano afirmar que boa parte dos consumidores usa roupas de grife.

No fim das contas, a reportagem da Globo, teoricamente bem-intencionada, acaba morrendo no nascedouro. Repito: o vídeo exibido não chega a concluir três minutos. Esbarra na falta de profundidade, não avança na discussão, e mais estigmatiza do que ajuda. Afinal, o bairro merece sim um ambiente mais agradável. Mas da forma como foi apresentada, a reportagem apenas serve para chocar uma classe média eternamente aterrorizada, cada vez mais isolada em seus apartamentos e em seu mundo virtual/surreal.

Talvez seja melhor ir para as boates da Zona Sul, onde não circula qualquer tipo de droga ilícita...

Ôpa!
S.