sexta-feira, 30 de março de 2012

quarta-feira, 28 de março de 2012

Gigantes que se vão


Perdemos o Millôr. E alguns dias depois de perdermos o Chico Anysio. Abstenho-me de escrever um post choroso ou piegas. Desculpem-me se eu não conseguir, porém. 

Curioso como a proximidade das duas despedidas reforçou o cenário de terra arrasada que a arte brasileira enfrenta nesse novo século. Perdemos o Millôr. Perdemos o Chico. Como bem perguntou o Barcinski, o que nos resta

Convenhamos, gente com o talento dos senhores em questão, que alcançam o reconhecimento ainda em vida, é algo raro. Que aparece de geração em geração. Mas é muito triste perceber que enquanto cérebros gigantes e inquietos nos deixam, ficamos com a nulidade, com a mediocridade. Com a burrice, para ser mais explícito.

Perdemos duas grandes referências. De inteligência e de integridade. O Chico, depois de todo o serviço prestado à arte desse país, amargou com brio um duro desprezo da maior emissora brasileira, aquela que adora afirmar aos quatro cantos que apóia a cultura nacional. O Millôr, por sua vez, era o tipo de intelectual que escrevia de uma maneira única, e mesmo que você não concordasse com o que ele dizia, era impossível negar a perspicácia e a sabedoria contida em cada palavra. Quantas pessoas podem ser descritas dessa forma hoje em dia? Usando ainda uma palavra do Barcinski, temos um farol a menos em nosso país. Enquanto isso, grassam a boçalidade, o maniqueísmo, a reflexão rasteira, a falta de leitura, os telós, as sangalos, os boninhos, o humor do termo de compromisso.

Estamos realmente caminhando a passos lentos para a decadência da cultura? Estamos em uma crise cíclica? Estamos em um hiato de criatividade?

De repente, o Millôr e o Chico decidiram nos deixar com essas dúvidas de propósito, como uma espécie de piada definitiva.
S.