quinta-feira, 29 de julho de 2010

Fraude ou sinal dos tempos?

Fiquei pensando nesse lance com o Felipe Massa, que na última corrida foi "aconselhado" pela Ferrari a permitir a ultrapassagem do companheiro de equipe Fernando Alonso. Por acaso, episódio vivido anos atrás por um outro brasileiro, o Rubinho - que por sua vez abriu espaço para a vitória de Schumacher. Todo mundo adora dizer que o Senna ou o Piquet nunca fariam isso e blábláblá. Antes de acusá-los de covardia, pensei em como os tempos atuais estão empurrando todos nós para um ciclo em que os princípios estão vários degraus abaixo na lista de nossas prioridades. É a famigerada lei do tenho-que-me-dar-bem, cada vez mais impregnada no ar que respiramos. Antes de defendermos o nosso próprio nome, temos que defender o nome de nossos empregadores, de quem irriga nossa conta bancária. Reflexos de um mundo cada vez mais cheio de gente medrosa e mesquinha. Por isso vejo toda a discussão sobre a "ética esportiva", o "respeito a quem assiste às corridas" como um debate secundário. Se por um lado faz falta termos gente célebre peitando esses ditames, creio que, antes de tudo, o Massa e o Rubinho são vítimas de uma época.
S.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Aspas

"Não gosto muito de ler essa revista. Tem propaganda demais."
(Seu Amorim, dono de banca de jornais perto do meu trampo, falando da Veja)

Engraçado como um dos principais motivos alegados pelos diretores da revista mais vendida do país para justificar sua "independência editorial" é motivo de irritação para o leitor. Os editores da revista adoram alardear que possuem muitos clientes, muita publicidade, como se isso significasse automaticamente credibilidade em igual escala. Não é a primeira vez que ouço alguém fazendo essa reclamação, mas por ter vindo de alguém fora do circuito Universidade/Mídia/Esquerda, a observação acaba ganhando mais significado.

E, de fato, a irritação é legítima. Algumas edições da revista carregam exageradamente nas páginas de propaganda, como se na verdade o leitor tivesse comprado uma revista de anúncios publicitários, entremeados por algumas reportagens com conteúdo... digamos... impróprio para menores e/ou incautos. Como se não bastasse o excesso, boa parte das peças comerciais é direcionada a uma pequena parcela dos leitores da revista - que o digam os carrões de cem mil reais, os privês de meio milhão, as jóias de não sei quantos dinheiros, etc.

No fim das contas, o coitado do leitor acaba bombardeado por uma série de fotos bonitas de coisas que ele não pode comprar e por informações enviesadas (quando não são criminosamente manipuladas). Um ótimo negócio. Para a revista.

PS: Por outro lado, nem tudo são flores para alguns colaboradores do semanário da Editora Abril.
S.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Se ele disse...

...então dito.
(do Trabalho Sujo)
S.

A surreal extrema-direita ianque

Pois é.

Depois que disseram que futebol é coisa de comunista e de gente bronzeada, nada mais assusta (pelo menos não deveria assustar).
S.

Serra, só

Leandro Fortes, um dos mais brilhantes jornalistas da atualidade, com um texto precioso.

---

Serra precisa de amigos
texto de Leandro Fortes

Ao acusar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ter transformado o Brasil em uma "república sindicalista", José Serra optou por agregar a seu modelito eleitoral, definitivamente, o discurso udenista de origem, de forma literal, da maneira como foi concebido pelas elites brasileiras antes do golpe militar de 1964. Não deixa de ser curioso, ouvir essa expressão, "república sindicalista", vinda da boca de quem, naquele mesmo ano do golpe de, colocava-se ao lado do presidente João Goulart contra os golpistas que se aninhavam nos quartéis com o mesmíssimo pretexto, levantado agora pelo candidato do PSDB, para amedrontar a classe média. Jango, dizia a UDN, macaqueavam os generais, havia feito do Brasil uma "república sindicalista". Ao se encarcerar nesse conceito político arcaico, preconceituoso, e sobretudo, falacioso, Serra completou o longo arco de aproximação com a extrema-direita brasileira, iniciado ao lado de Fernando Henrique Cardoso, nos anos 1990. Um casamento celebrado sob as cinzas de seu passado e de sua história, um funeral político que começou a ser conduzido sob a nebulosa aliança de interesses privatistas e conveniências fisiológicas pelo PFL de Antônio Carlos Magalhães, hoje, DEM, de figuras menores, minúsculas, como o vice que lhe enfiaram goela abaixo, o deputado Índio "multa-esmolé" da Costa.

Pior que o conceito, só a audiência especialmente convidada, talvez os amigos que lhe restaram, artistas e intelectuais arrebanhados às pressas para ouvir de Serra seus planos para a cultura brasileira: Carlos Vereza, Rosa Maria Murtinho, Maitê Proença, Zelito Viana, Ferreira Gullar e Marcelo Madureira - este último, raro exemplar de humorista de direita, palestrante eventual do Instituto Millennium, a sociedade acadêmica da neo UDN. Faltou Regina Duarte, a apavoradinha do Brasil, ausente, talvez, por se sentir bem representada. Diante de tão seleta platéia, talvez porque lhe faltem idéias para o setor, Serra destilou fel puro contra as ações culturais do governo Lula, sobretudo aquelas levadas a cabo pela Petrobras, a mesma empresa que os tucanos um dia pretenderam privatizar com o nome de Petrobrax. Animado com discurso de Serra, o humorista Madureira saiu-se com essa: "Quero que o Estado não se meta na cultura e no meu trabalho, como está acontecendo". Madureira trabalha na TV Globo, no "Casseta & Planeta Urgente". Como o Estado está se metendo no trabalho dele, ainda é um mistério para todos nós. Mas, a julgar pela falta de graça absoluta do programa em questão, eu imagino que deva ser uma ação do Ministério da Defesa.

Íntegra do texto aqui.
S.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Bens e incredulidade

Os bens de Jarbas Vasconcelos
texto de Urariano Mota, pescado no Vi o mundo

Jarbas Vasconcelos, vocês lembram, é aquele senador que, com indignação à altura da revista Veja, um dia afirmou nas páginas amarelas que o Bolsa Família servia apenas para gerar malandros ou incentivar as pessoas do povo para a vadiagem. E como prova declarou que conhecia um garçom que deixara de trabalhar pra viver da “bolsa esmola” de Lula, como pode ser visto aqui.

Naquela altura, o bravo senador era um varão de Plutarco, segundo as páginas e imagens da imprensa amarela em inglês e marrom no Brasil. Indignado, ele protestava contra os desonestos, bandidos e ladrões do seu partido, a falar para o Jornal Nacional e a Folha de São Paulo… Paro um pouco pra notar que escrevi “bandidos do seu partido” num ato falho. Isso pode ser interpretado como bandidos da laia do insigne senador, mas tal não foi minha intenção, creiam: quis apenas dizer “bandidos” que existem no partido onde o senador ainda se encontra, o PMDB. Entendam.

Então? como perguntam os paulistas. Então, meus pacientes amigos, o senador apresentou ontem a sua última declaração, devo dizer, a declaração atualizada de bens ao TRE de Pernambuco:

“Jarbas Vasconcelos – Candidato a Governador

Obras de arte (jóias, quadros, objetos de arte) – R$198.217,20
Camarote nº1 do Estádio Adelmar da Costa Carvalho – R$11.254,68
Casa no Rosarinho – R$100.000,00
Apartamento Pier Mauricio de Nassau – R$130.000,00
Saldo Conta Corrente Banco Real – R$547,24
Saldo Conta Corrente Banco do Brasil – R$1.441,60
Casa no Janga – R$120.000,00
Conta Corrente Banco do Brasil – R$341,98
Automóvel Peugeot, fab.2009 mod. 2010 – R$35.690,00
Banco Santander Real fundo de investimento renda fixa – R$215.296,30
Apartamento Pier Mauricio de Nassau ( a ser pago em parcelas) – R$ 403.771,85”

Para dizer o mínimo, a declaração acima, assim como aquela sobre o garçom malandro, peca pela falta de verossimilhança. Ainda que por lei os candidatos não sejam obrigados a fornecer uma cópia da declaração de Imposto de Renda à Justiça Eleitoral, nós, comuns mortais, bem que podemos comparar os valores declarados com os do mundo real. Em se tratando de Jarbas Vasconcelos, paladino da boa moral, o que dizer do que ele afirma e firma? Primeiro, na sua declaração a parcela real é maior que o todo da soma de Plutarco. A saber: os dois apartamentos valem, no mundo imoral dos imóveis, algo em torno de 1.700.000 reais. (Informações da Moura Dubeux). Esses dois apartamentos dignos de um senador vão além do total 1.216.560,85 informado acima. É natural, eles estão no mais alto prédio do Recife, digamos.

Segundo, na parcela obras de arte então, Jarbas Vasconcelos dá um show de modéstia. Ou de esquecimento. Montaigne ensinava que a primeira qualidade do mentiroso é ter boa memória. Pelo visto, Jarbas Vasconcelos leu e esqueceu a lição, pois no que ele declara como 198 mil reais existem mais que bois e bonecos do mestre Vitalino. Em artigo publicado na revista Continente, pudemos ver que nas paredes de sua casinha no Rosarinho (que ele avalia em cem milzinhos), existem quadros de João Câmara, Reynaldo Fonseca, Cícero Dias, Siron Franco, Vicente do Rego Monteiro e Aldemir Martins. Bom gosto, reconheçamos, mas um só Vicente do Rego Monteiro e um modesto Cícero Dias, por exemplo, podem custar mais que 198 mil cangaceiros de barro. Mas o nobre senador esqueceu.

Na sua declaração ao TRE, o ínclito Jarbas só perdeu mesmo para o deputado federal Raul Jungmann, candidato a senador na sua chapa (de Jarbas). Raul, o ex-comunista da escola de Roberto Freire, declarou possuir bens num total de…. 17 mil reais. Notem que Raul recebe salários acima de 20 mil reais há dois mandatos e não tem, coitado, sequer uma casa pra morar, nem mesmo um fusca pra chamar de seu.

Dizer o quê diante desse modelo de pobreza, honra e virtude? – Para o PPS e assemelhados o cinismo não mata.
S.