segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A falsa noite

repousou o pé no acelerador, sem rumo
sem objetivo
terceira marcha... terceira marcha...
quantos quilômetros até o primeiro semáforo?
a essa hora, quem se negaria a avançar o sinal vermelho?
terceira marcha
terceira marcha

buracos no asfalto
tão certos quanto as noites quentes

onde se compra cerveja a essa hora?
mas onde está a carteira?

sem rumo
sem dinheiro
sem documentos
a carteira ficou em alguma gaveta
ou debaixo de alguma roupa suja

"feliz noite dos tolos"
anunciam, entre sorrisos excessivos
desconhecidos em roupas de gala
sentados na calçada

mais buracos
menos opções

nessa noite quente
apenas as baratas apresentam algum ânimo

o estômago protesta
as lágrimas pedem para não escorrerem
não hoje

é preciso buscar uma outra bebida

antes que essa opção também se torne suspeita
S.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Transporte público: discussão falida

Situação A:
A lanchonete onde você come frequentemente insiste em aumentar os preços de seus produtos. Em determinado momento, você decide mudar o ponto onde você se alimenta, pois os custos ficaram muito altos. Você tem a opção de comer em outro lugar. Você encontra um outro local, com preços que não ofendem o seu orçamento. 

Comer é um direito.


Situação B:
O ônibus que você usa para se locomover insiste em aumentar as tarifas periodicamente. Nunca há um reajuste para baixo. Não existem promoções nesse tipo de contrato. Você pensa na lanchonete, mas acaba percebendo que não há opções. Não existem outras empresas de ônibus dispostas a levar você por um preço menor. Se você não tem condições de adquirir uma moto, um carro, ou se a sua cidade não for pequena o bastante para que você se locomova sempre de bicicleta, você está encrencado. 

Transporte é um direito.


Sem o transporte, você não pode ir para os hospitais, para as escolas, para o trabalho, para a praia, para os parques, visitar sua vó, ir para a sua lanchonete preferida. Você se transforma em um pária.

O esquema (a conotação negativa cabe bem) de transporte público recifense, assim como o brasileiro, é um símbolo do capitalismo sem risco, arcaico, fraudulento e ineficaz que por vários séculos vigora em nosso país, e que tanto agrada nossos medíocres marajás. É um prêmio na loteria para os empresários do setor, que atuam sem temer qualquer prejuízo, sabedores que são das mamatas que o Estado os entregará com um sorriso e um tapinha nas costas.

É cansativo e deprimente assistir todos os anos a estudantes apanhando da polícia nos protestos contra o aumento das tarifas. Cansativo porque observamos a polícia em seu velho papel de aparelho repressor (ao mesmo tempo em que assegura os privilégios de uma elite econômica da qual ela não faz parte) e deprimente porque os movimentos estudantis (maioria do movimento) focam em um ponto de menor valor, a consequência, em lugar da causa. Os quinze centavos que nos cobram a mais hoje são apenas a faceta mais visível de um setor abandonado e entregue a bandidos que não tem compromisso algum com a função social do transporte público, se é que eles já ouviram falar disso algum dia.

Enquanto esse problema não for tratado em toda sua extensão, ficaremos a discutir o micro, a pequena política, o arremedo de cidadania. 

Continuaremos a discutir sobre centavos e a apanhar da polícia.

PS: Lembro que postei um texto há exatos doze meses e seis dias, com teor bastante semelhante.
S.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Pirate Bay x SOPA

O texto ataca projeto (SOPA - que usa a velha justificativa de coibir a pirataria) em trâmite no Congresso norte-americano, mas serve como um alerta para as tentativas dentro do Congresso brasileiro.

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The Pirate Bay - [Tradução de Diário Liberdade] INTERNET, 18 de janeiro de 2012. Mais de um século atrás, Thomas Edison conseguiu a patente de um dispositivo que poderia “fazer para o olho o que o fonógrafo faz para a orelha”. Chamou-o cinetoscópio [Kinetoscope]. Ele não só foi um dos primeiros a gravar um vídeo, ele também foi a primeira pessoa a possuir os direitos autorais [copyright] de um filme.

Por causa das patentes de Edison para o cinema era quase financeiramente impossível conseguir criar filmes na costa leste dos EUA. Os estúdios de cinema, então, mudaram para a Califórnia, e fundaram o que hoje chamamos de Hollywood. O motivo foi principalmente porque lá não havia nenhuma patente. Também não havia nenhuma lei de proteção de direitos autorais que se tenha conhecimento, por isso os estúdios podiam copiar velhas histórias e fazer filmes baseados nelas – como Fantasia, um dos maiores sucessos da Disney.

Assim, toda a base desta indústria, que hoje está gritando com a perda de controle sobre os direitos imateriais, é que eles contornaram os direitos imateriais. Eles copiaram (ou em sua terminologia: “roubaram”) os trabalhos criativos dos outros, sem pagar por isso. Eles fizeram isso para terem um lucro enorme. Hoje, eles são todos bem sucedidos e a maioria dos estúdios está na lista Fortune 500 das empresas mais ricas do mundo.

A razão pela qual eles estão sempre reclamando sobre “piratas” hoje é simples. Nós fizemos o que eles fizeram. Nós contornamos as regras que eles criaram e criamos as nossas. Nós esmagamos o seu monopólio, dando às pessoas algo mais eficiente. Nós permitimos às pessoas terem uma comunicação direta entre si, contornando o rentável intermediário, que em alguns casos tomam mais de 107% dos lucros (sim, você paga para trabalhar para eles). É tudo baseado no fato de que estamos em competição. Nós temos provado que a existência deles na sua forma atual não é mais necessária. Nós somos apenas melhor do que eles são.

E a parte engraçada é que as nossas regras são muito semelhantes às ideias dos fundadores dos EUA. Nós lutamos por liberdade de expressão. Vemos todas as pessoas como iguais. Acreditamos que o público, não a elite, deveria governar a nação. Acreditamos que as leis deve ser criadas para servir o público, e não as corporações ricas.

The Pirate Bay é verdadeiramente uma comunidade internacional. A equipe está espalhada por todo o mundo – mas nós ficamos fora do EUA. Temos raízes suecas e um amigo sueco disse o seguinte: A palavra SOPA significa “lixo” em sueco. A palavra PIPA significa “tubo” em sueco. Isto não é, obviamente, uma coincidência. Eles querem transformar a internet em um tubo de mão única, com eles em cima, empurrando o lixo para baixo através do tubo para o resto de nós, consumidores obedientes. A opinião pública sobre este assunto é clara. Pergunte a qualquer um na rua e você vai aprender que ninguém quer ser alimentado com lixo. Por que o governo dos EUA querem que o povo norte-americano seja alimentado com o lixo está além da nossa imaginação, mas esperamos que você os detenha, antes que todos no afoguemos.

O SOPA não pode fazer nada para parar o TPB. No pior caso, vamos mudar o domínio de alto nível do nosso atual .org a uma das centenas de outros nomes que nós também já usamos. Em países onde o TPB é bloqueado, China e Arábia Saudita vem à mente, eles bloqueiam centenas de nomes de nosso domínio. E funcionou? Na verdade, não. Para corrigir o “problema da pirataria”, a pessoa deve ir à fonte do problema. A indústria do entretenimento diz que está criando “cultura”, mas o que eles realmente fazem é vender coisas como bonecas caríssimas e fazem meninas de 11 anos de idade se tornarem anoréxicas. Quer a partir do trabalho nas fábricas, que cria as bonecas por basicamente nenhum salário, quer por assistir filmes e shows de TV que as fazem pensar que são gordas.

No grande jogo de computador criado por Sid Meiers, Civilization, você pode construir Maravilhas do Mundo. Uma das mais poderosas é Hollywood. Com ela você controla toda a cultura e mídia do mundo. Rupert Murdoch estava feliz com o MySpace e não tinha problemas com a sua própria pirataria até que falhou. Agora ele está reclamando que o Google é a maior fonte de pirataria no mundo – porque ele é ciumento [no contexto cabe o termo "invejoso" - S.]. Ele quer manter o seu controle mental sobre as pessoas e claramente você consegue obter uma visão mais honesta das coisas na Wikipedia e no Google do que na Fox News.

Alguns fatos (anos, datas) provavelmente estão errado neste comunicado à imprensa. A razão é que não podemos obter estas informações quando Wikipedia está fora do ar. Por causa da pressão dos nossos decadentes concorrentes. Pedimos desculpas por isso.

THE PIRATE BAY, (K)2012

Original aqui.
S.

Veja, 1888

S.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Perdemos

Um programa de "entretenimento" joga na cara da "família brasileira" uma cena de abuso sexual, popularmente conhecido como ESTUPRO. E nada vai acontecer. Sua mãe viu, suas filhas viram, as pessoas que entendem que decência é um valor inegociável viram. Mas o apresentador resumiu tudo a um prosaico caso de amor. Um dos participantes resumiu a um momento de tesão. O diretor do programa resumiu a uma "infração de regras" (da atração, frise-se). Pouco importa se os olhos da nação, assim como a participante, foram agredidos. Pouco importa se os valores que nos esforçamos para cultivar diariamente desabem entre uma propaganda de automóvel e uma risada cínica. Nada vai acontecer. Na próxima edição, estarão todos sintonizados, entorpecidos. Nenhuma autoridade se manifestará. "A emissora é muito poderosa", dirão os canalhas de sempre. Perdemos para o lucro obsceno, para a falta de escrúpulos: nenhum dos patrocinadores emitirá uma nota de desligamento.  Perdemos para a hipocrisia: um país conservador e religioso reserva a um programa degradante uma das maiores audiências da TV. Perdemos para a barbárie. Esse é  o "reality show" com o qual preferimos não lidar.

Qual será o próximo passo dos "gênios" do horário nobre? Espancamento? Assassinato? Por quanto tempo seguiremos no faz-de-conta? Enquanto isso, por trás das câmeras, diretores, editores e executivos contam as cédulas enviadas pelos incautos. Não somos sérios. Caso contrário, entenderíamos que esse tipo de "entretenimento" não acrescenta, não forma, não colabora. E a emissora, uma concessão PÚBLICA (por extensão, uma prestadora de serviços à sociedade), é apenas parte da nossa falta de responsabilidade, da nossa inação.


Em tempo: não vi, e prefiro não assistir à cena. Li apenas o que foi publicado sobre o caso na internet.

Indicação de texto: A mídia que estupra, por Ana Flávia Ramos
S.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Gente diferenciada

Recenseadores do IBGE afirmam que sentem mais dificuldade em bairros de luxo: 

"O Pessoal não recebe o censo, por que tem medo de não conseguir explicar quanto ganha e como faz para ganhar dinheiro."
S.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Recado

Oi,

entendo que sua família precisa de educação, mas eu vou anestesiar o cérebro de vocês com uma programação televisiva de merda. Já percebi que vocês adoram pedir pela paz, mas vou fabricar uma guerra e ceifar algumas vidas para que a indústria bélica aumente a produção. Eu sei que vocês precisam de moradias para famílias pobres, mas eu vou usar o mesmo espaço para construir um edifício-garagem. Estou ciente de que a fome é uma falha humana, mas no momento não posso fazer nada pois estou providenciando um novo iate para um banqueiro.


Atenciosamente,

Capitalismo
S.

Redução de danos



 S.