segunda-feira, 16 de abril de 2012

À moda da máfia


Salve essa imagem em seu cérebro.

A capa acima é a maior declaração de culpa de um veículo de imprensa desde a invenção da prensa móvel pelo Gutenberg. O Murdoch deve estar se sentindo uma criança inexperiente. 

Observamos o Congresso inteiro em vias de instalar uma comissão investigativa que reunirá integrantes de praticamente todo o espectro partidário da casa, da extrema-esquerda à extrema-direita, em consequência de uma operação da Polícia Federal que flagrou um explorador de jogos ilegais (conhecido como bicheiro), o Carlinhos Cachoeira, em conluio com vários políticos em cargos de alto escalão, como um ex-senador, governadores em exercício, deputados, ex-servidores públicos, além de jornalistas (incluído o editor da revista acima, Policarpo Junior), entre outros. Coisa de deixar o Berlusconi com inveja. 

Vem então, a semanal da Editora Abril, do alto de seu trono imaculado, afirmar que a instalação da comissão investigativa no Congresso é um expediente autoritário de um ÚNICO partido, que visa desmoralizar e encobrir "o maior escândalo de corrupção da história do país". (sic)

Ora, a quem cabe definir a necessidade de uma investigação? Ao Congresso ou ao Roberto Civita?

E sua Veja, a eterna paladina da moralidade e dos bons costumes, de repente não acha mais importante o saneamento dos costumes políticos no Brasil? Para a Veja existe uma corrupção muito corrupta e uma corrupção menos corrupta? Um escândalo anula o outro? De onde vem a indignação seletiva? Vem das mais de 200 chamadas telefônicas entre o contraventor Cachoeira e o jornalista de sua redação?

O pior de tudo é o texto da matéria de capa. Infantil, incoerente, carregado de cólera e de adjetivos. Uma aula de antijornalismo.

A revista do Civita se associou ao crime organizado para atingir desafetos políticos. Estuprou o direito à liberdade de imprensa. Partiu para a libertinagem, para a devassidão. Desprezou as leis em nome de interesses escusos, à moda da máfia. A agência reguladora da imprensa inglesa fechou um jornal centenário por muito menos.

Curiosamente, a capa da Carta Capital da mesma semana traz um questionamento prosaico, quase pueril, praticamente antevendo a capa da Veja:


Ganha uma máquina de caça-níquel quem apontar a revista com mais receio da CPI do Cachoeira.
S.

Nenhum comentário: