Antes ler críticas consistentes do que as linhas tortas de um Reinaldo Azevedo ou de um Álvaro Dias:
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"Há setores da população com uma vocação conservadora imensa; eles não
integram necessariamente uma classe específica, embora as chamadas
“classes médias”, ascendentes ou descendentes, estejam bem representadas
ali. Grande parte da chamada sociedade brasileira — a maioria, infelizmente,
temo — se sentiria muito satisfeita sob um regime autoritário, sobretudo
se conduzido mediaticamente pela autoridade paternal de uma
personalidade forte. Mas isso é uma daquelas coisas que a minoria
libertária que existe no país, ou mesmo uma certa medioria
“progressista”, prefere manter envolta em um silêncio embaraçado.
Repete-se a todo e a qualquer propósito que o povo brasileiro é
democrático, “cordial”, amante da liberdade, da igualdade e da
fraternidade – o que me parece uma ilusão muito perigosa."
"Não adianta redistribuir renda (ou melhor, aumentar a quantidade de
migalhas que caem da mesa cada vez mais farta dos ricos) apenas para
comprar televisão e ficar vendo o BBB e porcarias do mesmo quilate, se
não redistribuímos cultura, educação, ciência e sabedoria; se não damos
ao povo condições de criar cultura em lugar de apenas consumir aquela
produzida “para” ele."
"Faz falta um discurso politico mais agressivo em relação à questão ambiental. É preciso sobretudo falar aos povos,
chamar a atenção de que saneamento básico é um problema ambiental,
dengue é problema ambiental, lixão é problema ambiental. Não é possível
separar desmatamento de dengue e de saneamento básico. É preciso
convencer a população mais pobre de que melhorar as condições ambientais
é garantir as condições de existência das pessoas. Mas a esquerda
tradicional, como se está comprovando, mostra-se completamente
despreparada para articular um discurso sobre a questão ambiental."
"Enquanto acharmos que melhorar a vida das pessoas é dar-lhes mais
dinheiro para comprarem uma televisão, em vez de melhorar o saneamento, o
abastecimento de água, a saúde e a educação fundamental, não vai dar. (...) Não se diga, por suposto, que os mais favorecidos pensem melhor e vejam
mais longe que os mais pobres. Nada mais idiota do que esses Land Rovers
que a gente vê a torto e a direito em São Paulo ou no Rio, rodando com
plásticos do Greenpeace e slogans “ecológicos” colados nos pára-brisas."
"É uma situação difícil: falta instrução básica, falta compromisso da
mídia, falta agressividade política no tratar da questão do ambiente —
isso quando se acha que há uma questão ambiental, o que está longe de
ser o caso de nossos atuais Responsáveis. Estes mostram, ao contrário e
por exemplo, preocupação em formar jovens que dirijam com segurança, e
assim ao mesmo tempo mantêm sua aposta firme no futuro do transporte por
carro individual numa cidade como São Paulo, em que não cabe nem mais
uma agulha. Um governo que não se cansa de arrotar grandeza sobre a
quantidade de veiculos produzidos por ano. É um absurdo utilizar os
números da produção de veiculos como indicador de prosperidade
econômica."
"Entendo que (...) o capitalismo sustentável é uma contradição em termos, e que se nossa presente forma de vida econômica é realmente necessária,
então logo nossa forma de vida biológica, isto é, a espécie humana,
vai-se mostrar desnecessária. A Terra vai favorecer outras alternativas. A ideia de crescimento negativo, ou de objeção ao
crescimento, a ética da suficiência são contraditórias com a lógica do
capital. O capitalismo depende do crescimento contínuo. A ideia
manutenção de um determinado patamar de equilíbrio na relação de troca
energética com a natureza não cabe na matriz econômica do capitalismo."
"O nosso governo dito de esquerda governa com a permissão da oligarquia e
dos jagunços destas para governar, ou seja, pode fazer várias coisas
desde que a parte do leão continue com ela. Toda vez que o governo
ensaia alguma medida que ameace isso,o congresso, eleito sabe-se como,
breca, a imprensa derruba, o PMDB sabota."
"Penso que é preciso insistir que é possível ser feliz sem se deixar
hipnotizar por esse frenesi de consumo que a mídia nos impõe."
- Professor Eduardo Viveiros de Castro, em entrevista ao Outras Palavras
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As citações acima já dizem bastante, mas recomendo o texto na íntegra.
S.
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