domingo, 10 de abril de 2011

Realengo

A maior demonstração de respeito pelas famílias das vítimas da tragédia em Realengo é tão prosaica quanto fácil: simplesmente deveríamos deixá-las em paz. E nesse caso, a palavra "paz" se torna ainda mais simbólica. O comportamento da imprensa no caso foi (e tem sido) profundamente vergonhoso. Confesso que pouco sei do episódio, e pouco saberei, pois me nego a acompanhar a cobertura sanguessa de boa parte da mídia.

Impressionante o baixíssimo nível dos "profissionais" da Comunicação, vomitando milhões de suposições, espalhando boatos, alimentando o ódio e a intolerância, multiplicando a ignorância. De onde saem tantos "especialistas"? Tanta gente cheia de explicações para um desastre que absolutamente NINGUÉM poderia prever? A dura realidade é essa: apenas o Wellington (claramente uma pessoa com graves problemas psíquicos) sabia o que estava para acontecer. Nenhum doutor, com trezentos diplomas e quinhentos anos de carreira evitaria o inevitável. O que o país presenciou foi uma fatalidade.

Durante cerca de cinco minutos, ao parar em uma padaria nas proximidades de casa, assisti surpreso ao desfile de imagens tristes, com repórteres fazendo perguntas inconvenientes a familiares ainda chocados. Câmeras grudadas em rostos angustiados. Helicópteros sobrevoando a unidade escolar, filmando o vazio, apenas para que relembrássemos ininterruptamente do caos. Nenhum respeito à dor alheia. Para mim foi mais do que eu precisava ver. Atônito, ainda tive que ouvir a Fátima Bernardes, com aquela cara de mãe de família brejeira, reservar o epíteto de "assassino" para o autor dos tiros, como se a desqualificação fosse uma forma de trazer justiça.

Cabe à Comunicação Social trazer ao público informações objetivas. Não é papel dela insuflar os ânimos da sociedade, ainda mais em casos de grande repercussão e de forte carga emocional, como foi o caso do tiroteio na escola carioca. Contudo, cada emissora, cada revista, cada jornal decidiu escolher seu adjetivo favorito, para expor na capa. E aos nossos olhos, tudo aconteceu por causa de um "monstro", um "louco", ou um "assassino frio". A imprensa deve buscar o equilíbrio nos momentos em que o chão é sacudido, argumentos nos momentos em que a violência parece iminente, fatos concretos nos momentos em que os boatos tomam força.

Ainda que não tenho alcançado a paternidade, reconheço que é uma dor absurda perder um filho da forma como tudo aconteceu naquela escola. Por outro lado, não pretendo com esse texto isentar o Wellington da responsabilidade pelo que ocorreu (se é que ele tinha essa consciência). No entanto, se buscarmos a razão, ela nos dirá que todos, incluindo o autor dos disparos, foram vítimas de uma tragédia sem vilões.
S.

Nenhum comentário: