terça-feira, 10 de agosto de 2010

Sábado, Domingo, Segunda

Sábado
Tudo que ele tinha tomado era uma lata de cerveja quente, comprada numa loja de conveniência. A espera já durava cerca de vinte minutos, e qualquer outro lugar seria melhor do que aquele posto. Ela finalmente chegou. Encontraram um bar a poucos metros, tão movimentado quanto a loja de conveniência. De posse do inevitável violão, o inevitável cantor de MPB entregava as canções de sempre. No entanto, as músicas famosas não a impediram de notar a quietude dele.

- Tu tá meio calado, né?

Domingo
Havia muito tempo que ele não tomava uísque. Mas aquele dia estava diferente, todos os amigos estavam reunidos e o uísque era de boa qualidade. Contudo, à medida que a noite avançava, o corpo acusava o cansaço. Confidenciou a um dos amigos que estava sentado ao seu lado. Recebeu a garantia de um espaço para dormir na própria casa em que ocorria a festa. Uma das simpáticas garotas que ele havia conhecido naquela noite observou a conversa entre os dois, e aproveitou o momento para liberar um comentário.

- Ele é bem quietinho!

Segunda
Não via a hora de terminar o expediente e pegar o ônibus para ir pra casa. Ele teria como companhia uma das colegas de trabalho, que seguiria para o mesmo destino. Como sempre, o ônibus estava cheio, e diversas conversas podiam ser entreouvidas, umas em tom mais ameno, outras com maior grau de excitação. Para completar o quadro, o irritante celular com músicas rodando na função alto-falante, um dos maiores e mais inconvenientes símbolos da pós-modernidade. Como quem demonstrasse ânsia de fazer parte daquele ritual do excesso, ela resolveu fazer um pedido singelo.

- Fala alguma coisa...

Terça
Sozinho em um pequeno e sossegado cômodo, ele tinha apenas uma caneta e um papel rabiscado em mãos. Em meio aos desenhos e palavras aleatórias, uma anotação em destaque:

"Não sei onde trancafiar a sutileza."
S.

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