quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Mundinho sem graça

Minha vida está bem longe de ser emocionante (e escrever esta sentença é uma prova irrefutável disso). Mas ao que parece tem gente respirando muito mais fumaça. Deve ser um saco se ver preso em um universo em que a negação das contradições e dos conflitos humanos seja uma tarefa permanente.

Curioso como muita gente insiste em caracterizar a democracia e o capitalismo como se uma coisa fosse intrínseca à outra. Restando ao socialismo e às suas doutrinas correlatas a pecha de símbolos ditatoriais. Ora, não vamos misturar feijão com batata. Reafirmar essa coisa de irmandade siamesa entre formas de governo e estruturas econômico-financeiras é apostar na ingenuidade do público. A democracia é um sistema de governo que pode ter sob o seu telhado tanto o Nelson Mandela como o Berlusconi.

Por trás desse pensamento está a nada ingênua intenção de desmobilizar a sociedade. Na tentativa de matar o questionamento e a inquietude, jogam para a plateia essa coisa de fim da História. É a destruição do contraditório como estratégia para que ninguém faça bulhufas. Além de tedioso, isso deve ser bem exaustivo. O Comunismo morreu? Que bom, Stálin era um grandioso pústula. O Neoliberalismo é um cadáver? Maravilha, já era tempo. O que não dá é ficar caindo na conversa de que não há mais progressistas e conservadores. Até porque isso só favorece quem está comendo caviar na Suíça, na crença de que a Bolsa de Valores tem primazia sobre o saneamento básico no Ibura.

A esquerda e a direita continuam vivas. Ainda que alguns fulanos, no intervalo entre um livro do Fukuyama e um CD do Jota Quest, digam o contrário. As mesmas canetas que costumam dar uma conotação ruim ao esquerdismo, adoram usar o vocábulo conservador como um eufemismo para direitista. Nessas horas lembro do Latuff, que falou (com muita propriedade) que a direita do Brasil é ainda mais medíocre pelo fato de ter medo de se autoproclamar como tal. É a tática do controle de danos. É a proposta Vamos-chutar-a-estátua-do-Che, mas vamos chamar nosso grupo de Democratas. Porque Direitistas queima o filme. E não rende voto.

Enquanto isso, rezam para o deus mercado, aquele que tudo corrige.
S.

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