quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Desordem (ou Momento Prosa Delinquente)

Primeiro foi o neném, que corria atrás de sua bolinha verde. Distraído, o neném tropeçou nela e caiu. Choro do neném. O pai do neném foi o segundo. Viu o que derrubou o neném, e tentou retirá-la dali. Sem sucesso.

Chamado para ajudar, um rapaz que caminhava. A força extra, talvez, fosse o bastante para removê-la. Nada feito.

Nesse momento, uma meia dúzia de pessoas já começa a se agrupar em volta dos dois homens. Alguns apenas assistiam, outros se dispuseram a ajudar. A essa altura, o neném já não chorava mais. Segurando a sua bolinha verde, apenas observava atentamente toda aquela movimentação.

Em razão do pequeno tumulto, policiais que circulavam na área se aproximaram. Talvez fossem mais preparados para a tarefa de ordenar o espaço público.

Novamente, nada ocorreu.

As horas corriam. Ferramentas chegaram. Pás. Martelinhos. Cordas. Ao mesmo tempo, mais pessoas. Crianças. Mendigos. Curiosos. Um círculo enorme se fez. Dezenas de pessoas. Uma comoção que crescia a cada minuto. Bombeiros foram chamados. Jornalistas começavam a aparecer. Vendedores de água e picolé disputavam clientes. A rua passou a ser tomada pelo acontecimento. Carros buzinavam. As horas corriam. Alheia à balbúrdia, a causadora da confusão permanecia estável. Inerte.

A noite já ameaçava cair.

Foi então que todos concordaram em desistir. A única coisa a ser feita era desviar daquele obstáculo. Esperar que um dia tudo voltasse à normalidade. Os policiais dispersavam a multidão. Os vendedores ainda buscavam compradores. A noite se fez presente.

E assim, ela ficou ali. Imóvel.

E ninguém perguntou o porquê.
S.

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