sábado, 18 de outubro de 2008

Locomotiva do atraso

Mesmo em um mundo irracional como o nosso, certos fenômenos resistem em se apresentarem como impensáveis. Algo como um prêmio Nobel de literatura para o Paulo Coelho, um Grammy para o Alexandre Pires, ou a conquista da próxima Copa pelo time do Dunga.

Porém, em São Paulo, o Serra mostrou que nem tudo é tão impensável como imaginamos. O Mr. Burns paulista, exaltado pelas hostes conservadoras e pela mídia baba-ovo como um exemplo de administrador moderno, conseguiu colocar as duas polícias do estado, a Civil e a Militar, em uma guerra - e em lados opostos, sublinhe-se.

O episódio é bastante simbólico no sentido de mostrar a ineficácia do eterno candidato a presidência como um negociador.

Grevistas da Polícia Civil de São Paulo, que seguiam para a sede do governo paulista, entraram em conflito com a Polícia Militar, convocada pelo governador para baixar o sarrafo e impedir a entrada dos manifestantes.

Um indivíduo que, por puro autoritarismo e arrogância, põe em conflito duas instiuições policiais no meio da maior cidade do país, é um dos principais candidatos à sucessão presidencial?

Como disse o Mino Carta, a cidade mais rica do país insiste em ser a locomotiva do atraso.

A Globo, para variar, em uma reportagem de quinta-feira mostrou seu "jornalismo ético e independente". Enquanto o Serra teve quatro minutos para falar ao vivo, NENHUM representante dos grevistas foi ouvido. Será que a emissora imaginou que o próprio Serra ia expor os dois lados?
Serra e a guerra
Por Mino Carta, no blog do Mino

A guerra paulistana das polícias causa o maior impacto. Entende-se. É a mais implacável e concreta metáfora da nossa insegurança. No quadro, claras as irresponsabilidades. De um lado, autoridades incompetentes até a leviandade, sintonizadas à perfeição com as visões dos privilegiados do Brasil. Do outro, policiais mal preparados e muito mal pagos. Neste episódio, especificamente, avulta o autoritarismo do governador José Serra, a comprometer a possibilidade de uma negociação o mais possível civilizada. Para quem é candidatíssimo a candidatíssimo à presidência da República, o lance está longe de ser positivo.


Grave, muito grave
Por Luiz Carlos Azenha, no Vi o Mundo

Quando policiais se enfrentam, uniformizados e possivelmente armados, alguma coisa está errada.
Crimes foram cometidos? Quais? Quem investigará? Quem punirá? É a isso que eu chamo de "crise das instituições", não aquela inventada por uma certa revista semanal.

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