Há quatro décadas e meia, ocorreu o golpe de estado ("Revolução" é o cacete!) de 1964, que durou até 1985. Acabou mesmo? Sem querer soar paranoico ou chato, a impressão é que o país continua sangrando por causa das pancadas ditatoriais.
As consequências do golpe ainda são muito expressivas. É como se o Brasil ainda vivesse sob um estado de exceção, mais sutil, mais encoberto, só um pouco diferente. Mas que persiste. Personagens famosos da época continuam aí. Por exemplo, como é que um Sarney da vida, ainda hoje tem força política para ser presidente do Senado? Como é que a Rede Globo, veículo da imprensa mais beneficiado pelo período (com direito a ajuda estrangeira ilegal), ainda tem a influência que tem? Quarenta e cinco anos depois, e as emissoras de TV ainda não conseguem chegar perto da estrutura globífera, um claro reflexo dos anos de chumbo. A Folha de São Paulo, que chegou a emprestar Kombis para os militares levarem presos políticos, continua sendo um dos jornais de maior tiragem.
A ditadura política se misturou com uma ditadura econômica, em que o dinheiro se sobrepõe a qualquer valor humano. Com a queda do muro de Berlim, caíram junto utopias. O que importa é se dar bem. Quem se importa com o interesse público? Fuck the poor, como diria o Senado romano no filme História do Mundo, de Mel Brooks. A lei é a competição. A lei é a do cão. A censura sobrevive, camuflada. Alguém imagina um jornalista com liberdade para dizer, em qualquer grande espaço da mídia (TV, jornais ou revistas) que o ex-vice-presidente dos Estados Unidos fez fortuna com a invasão do Iraque? Ou que Israel realizou um massacre em Gaza? Ou que o Daniel Dantas é um criminoso? Ou que o volume de dinheiro reservado para pagar a dívida é uma ofensa aos brasileiros? Só há espaço para o pensamento único, como se qualquer tipo de debate fosse um incômodo. Temos uma imprensa fraca, submissa, corrupta, de certa forma antipatriótica. A censura se dá pela grana, e não somente pela ideologia. O melhor modo de não ser incomodado ou investigado pela imprensa é sendo um grande anunciante.
A anistia geral mostrou-se equivocada. Não sei se por covardia ou por causa do famigerado "cordialismo" brasileiro, a opção foi não punir ninguém, como se fosse possível apagar a História. Por essa razão hoje temos que conviver com torturadores livres e despreocupados. Somos obrigados a engolir o cinismo dos selvagens de ontem, que chegam ao disparate de celebrar o golpe, em um absoluto desrespeito ao país. Países sul-americanos, como Argentina e Chile, condenaram os principais responsáveis pelas mortes e desaparecimentos políticos. Isso não é revanchismo ou vingança. É um dispositivo legal, democrático e constitucional. Para familiares que perderam entes queridos, uma oferta de conforto e de justiça. Para o país, é uma garantia de que algo semelhante não se repita. É uma oportunidade de refletir sobre a História da nação, para que ela não seja esquecida. É uma pena que o Brasil não tenha seguido essa alternativa. Fica a esperança de que, um dia, o golpe termine de fato.
Atualização:
As consequências do golpe ainda são muito expressivas. É como se o Brasil ainda vivesse sob um estado de exceção, mais sutil, mais encoberto, só um pouco diferente. Mas que persiste. Personagens famosos da época continuam aí. Por exemplo, como é que um Sarney da vida, ainda hoje tem força política para ser presidente do Senado? Como é que a Rede Globo, veículo da imprensa mais beneficiado pelo período (com direito a ajuda estrangeira ilegal), ainda tem a influência que tem? Quarenta e cinco anos depois, e as emissoras de TV ainda não conseguem chegar perto da estrutura globífera, um claro reflexo dos anos de chumbo. A Folha de São Paulo, que chegou a emprestar Kombis para os militares levarem presos políticos, continua sendo um dos jornais de maior tiragem.
A ditadura política se misturou com uma ditadura econômica, em que o dinheiro se sobrepõe a qualquer valor humano. Com a queda do muro de Berlim, caíram junto utopias. O que importa é se dar bem. Quem se importa com o interesse público? Fuck the poor, como diria o Senado romano no filme História do Mundo, de Mel Brooks. A lei é a competição. A lei é a do cão. A censura sobrevive, camuflada. Alguém imagina um jornalista com liberdade para dizer, em qualquer grande espaço da mídia (TV, jornais ou revistas) que o ex-vice-presidente dos Estados Unidos fez fortuna com a invasão do Iraque? Ou que Israel realizou um massacre em Gaza? Ou que o Daniel Dantas é um criminoso? Ou que o volume de dinheiro reservado para pagar a dívida é uma ofensa aos brasileiros? Só há espaço para o pensamento único, como se qualquer tipo de debate fosse um incômodo. Temos uma imprensa fraca, submissa, corrupta, de certa forma antipatriótica. A censura se dá pela grana, e não somente pela ideologia. O melhor modo de não ser incomodado ou investigado pela imprensa é sendo um grande anunciante.
A anistia geral mostrou-se equivocada. Não sei se por covardia ou por causa do famigerado "cordialismo" brasileiro, a opção foi não punir ninguém, como se fosse possível apagar a História. Por essa razão hoje temos que conviver com torturadores livres e despreocupados. Somos obrigados a engolir o cinismo dos selvagens de ontem, que chegam ao disparate de celebrar o golpe, em um absoluto desrespeito ao país. Países sul-americanos, como Argentina e Chile, condenaram os principais responsáveis pelas mortes e desaparecimentos políticos. Isso não é revanchismo ou vingança. É um dispositivo legal, democrático e constitucional. Para familiares que perderam entes queridos, uma oferta de conforto e de justiça. Para o país, é uma garantia de que algo semelhante não se repita. É uma oportunidade de refletir sobre a História da nação, para que ela não seja esquecida. É uma pena que o Brasil não tenha seguido essa alternativa. Fica a esperança de que, um dia, o golpe termine de fato.
Atualização:
Algumas palavras e casos sobre o regime militar brasileiro, por André Raboni, do blog Acerto de Contas
S.